sexta-feira

Filho de Bebeto busca sua identidade: ‘Gosto que me chamem de Mattheus’

Matheus, filho do Bebeto (Foto: Rafael Cavalieri/Globoesporte.com)


É possível que Mattheus não goste do título desta matéria. E que não aprove outros tantos que estão por vir. O filho de Bebeto ainda traça as primeiras linhas de uma história que ele espera que pelo menos se aproxime da que o pai escreveu. O orgulho de ser cria do tetracampeão está intacto. O que ele quer, e trabalha para conquistar, é a própria identidade.

- Nas matérias chega a incomodar um pouquinho. Gosto que me chamem de Mattheus. Sou filho do Bebeto, lógico, mas dentro de campo, no meu trabalho, sou o Mattheus. Meu pai fez a história dele, muito bonita. Não tenho ainda nem 1% do que ele fez, mas estou fazendo minha história para quem sabe um dia chegar em algum lugar na minha carreira.


Mattheus é o filho caçula do ex-camisa 7 da Seleção Brasileira e foi o neném “embalado” na marcante comemoração de Bebeto no jogo contra a Holanda, na Copa do Mundo dos Estados Unidos, em 1994. Quase 18 anos depois, ele faz parte do time júnior do Flamengo. É titular e tem se destacado na campanha do Carioca da categoria com gols e assistências.

- Desde pequeno eu procuro separar isso. Nas entrevistas que dou, separo sempre. Eu sou o Mattheus. Sei que ainda sou novo. Vai chegar a hora em que isso vai começar a sumir, com os treinos e jogos. Meu pai sempre fala para eu fazer meu trabalho, quieto, com humildade. E daqui a pouco ele vai ser chamado de o pai do Mattheus (risos). Sigo assim.

O garoto tem características bem diferentes das de Bebeto. É meia, canhoto e já tem 1,85m de altura. Apesar de estar no primeiro ano entre os juniores, tem no currículo o título da Copa São Paulo de Futebol Júnior. Ele fez parte do grupo campeão no início de 2011, aos 16 anos. Pouco a pouco, Mattheus quer cruzar os campos do Ninho do Urubu até chegar ao gramado principal. Esteve por lá em alguns treinos, mas não vê a hora de ficar.

A reportagem do GLOBOESPORTE.COM conversou com o jogador na tarde de quarta-feira, num shopping da Barra da Tijuca, na Zona Oeste. Abaixo, o internauta confere os principais trechos do encontro.

Relação com Bebeto

É aquele negócio de pai. Sempre dá conselhos sobre jogos, treinos, o que ele viveu. Mas tem a emoção também. Ele conheceu a minha mãe dentro do Flamengo, jogou no clube. Fica feliz de me ver com a camisa do Flamengo. Procura manter uma linha certa, para não colocar muito peso sobre mim. Procura me orientar, mas não elogia e nem critica. Ele sempre diz que tenho que melhorar. Depois dos jogos, sempre analisamos se fui bem ou mal. Posso ir bem em todos os jogos, mas se erro um passe ele reclama. Pior que treinador (risos). Agora está mais tranquilo, gosta de ir às partidas para me orientar. Sempre que possível ele está lá.

Título da Copa São Paulo de Futebol Júnior


O professor (Paulo Henrique) me deu a oportunidade e meu pai sempre falou que quando você tem uma chance tem que agarrar. Sabia que tinha de estar no grupo, no mínimo. Fui para a Copinha e conseguimos o título. Era titular do juvenil, estava bem, jogando direito. Foi uma experiência muito válida.

Treinos com a equipe profissional

Cheguei a fazer treinos com o Vanderlei (Luxemburgo). Quando precisava, ele puxava alguns garotos. Me puxou umas quatro vezes. Foi mais uma experiência para mim. Quando a gente sobe, os caras sempre dão muita moral. Já conhecia o Léo Moura há bastante tempo. Sempre que algúem sobe, ele abraça. Todos são muito legais, conversam bastante, passam experiência. Isso me deu confiança também. Nossa preocupação é só treinar e jogar. O Vanderlei chegou a conversar comigo quando eu estava no juvenil. É um treinador rodado, tem muitos títulos. Você tem que escutar a voz da experiência. Aprender para colher.
Frustração na Copinha 2012

Como éramos campeões, o time a ser batido era o nosso. Não faltou vontade, não foi isso, mas demos mole. Realmente demos mole e caímos na primeira fase. Poderíamos ter ido muito mais longe, nosso time tinha uma qualidade imensa.

Evolução

Esse ano evoluí na parte física, na parte técnica. A experiência que tive no profissional ajudou muito. Das vezes que subi, peguei confiança. Tenho de continuar treinando firme e pesado para chegar no profissional de novo.
Estreia entre os profissionais

Um sonho realizado. Eu praticamente nasci ali dentro do Flamengo. Tive a chance no primeiro jogo (contra o Olaria, na Taça Guanabara deste ano), consegui lidar bem com a estreia, não entrei nervoso, entrei supertranquilo. Os professores dão essa confiança para a gente. Se tiver uma nova chance, vou agarrar. Estou pronto. Quando você chega nos profissionais, quer ficar, é o sonho. Se pintar uma oportunidade real, vou agarrar. Meu pai fala que a equipe júnior é um pulo para o profissional. Eles estão do lado, dá uma vontade de treinar. O professor Joel sempre chama para fazermos uns treinos com eles para pegar entrosamento. Dá uma vontade imensa de estar lá e um dia ficar.

Bom momento na base

Peguei uma sequência boa de jogos, comecei a fazer gols, a dar assistências. Decolei. Agora, é manter para melhorar. Não posso deixar cair para ter novas oportunidades. Estou bem mais confiante, mais solto, entrosado.

Contato com Ronaldinho Gaúcho

Conheço o Ronaldinho antes de ele chegar ao Flamengo. Conheço o Diego, sobrinho dele, que agora também está no clube. Conheci o Ronaldinho em 2002, na época da Copa (do Japão e da Coreia do Sul). É um ídolo por tudo que conquistou no futebol. Tenho que me espelhar nisso. Ali do lado é melhor ainda, ver ele treinando, jogando.

Inspiração
Eu jogo de meia-esquerda, sou canhoto. O Ganso também. Ele tem raciocínio rápido, acha o companheiro numa facilidade absurda. Aqui no Brasil sempre procuro ver os jogos dele pelo Santos. É um cara em quem me inspiro bastante.

Vaidade na base

Procuro chegar em campo e jogar futebol. Não me preocupo com aparência, cabelo, chuteira. Se fosse preocupado com isso, seria modelo. Vaidade demais sempre atrapalha. É normal que a vaidade exista, mas não pode exagerar. Tem que se preocupar com o futebol.

‘Gatos’ no futebol

Eu comecei no fraldinha. De fraldinha a júnior existe muito isso. Não me atrapalhou, mas muitas vezes tive amigos jogando comigo e descobriram que era gato, você acaba perdendo a carreira toda. O Jorbinson (confira o caso do jogador) treinou comigo, jogou comigo. O Jorbinho até continuou, desejo sorte a ele, é gente boa demais. Mando um abraço para ele e que tudo dê certo.
Briga na Taça Guanabara

Estamos na vice-liderança. O Nova Iguaçu está dois pontos à frente. Agora, enfrentamos o Americano, e o Nova Iguaçu enfrenta o Vasco. Para ficar com o título, temos de vencer o nosso jogo e torcer por uma derrota do Nova Iguaçu. Se eles empatarem, temos de conseguir uma goleada de quatro ou mais gols para ficar com o título. Essa partida eu não vou jogar, estou suspenso. Mas o grupo vai tentar.

Nota: Nova Iguaçu e Vasco jogam no estádio Laranjão. O Flamengo recebe o Americano, na Gávea. As duas partidas ocorrem às 15h de sábado.