sábado

Meia do Vasco e da seleção brasileira, confessa que é "gato" e se chama Fabricio

Heitor Bispo dos Santos, alto, forte, era uma das cinco joias vascaínas campeãs do Campeonato Sul-Americano sub-15, realizado no Uruguai, em dezembro do ano passado, com a camisa da seleção brasileira. Mas Heitor, conhecido como Baiano, titular do Vasco, campeão Estadual infantil em 2011, era muito alto, muito forte para a idade. Chamava a atenção pelo porte físico. Ele não é "96", como costumam dizer todos profissionais que trabalham com base ao se referir ao ano de nascimento dos atletas. Longe disso, Fabricio — nome verdadeiro do garoto da cidade de Camacan, interior da Bahia — nasceu em 1992 e completa 20 anos no mês de junho. Na certidão de nascimento apresentada ao clube, Heitor teria feito 16 anos no último dia 7 de março.

O gato — termo do futebol usado para a adulteração de documento, para diminuir a idade do menino — foi descoberto há uma semana pelo Vasco. O baiano assumiu, aos prantos, que tinha a identidade falsificada, que não se chamava Heitor e disse que não podia continuar mentindo. Empresariado pelo ex-jogador vascaíno Bismarck, Baiano chegou há quatro anos em São Januário, vindo da Bahia.

— Estamos trabalhando com ele há um ano. Foi um choque do caceta quando ele nos disse. Mas vamos regularizar tudo. Hoje (ontem), ele já tirou identidade, CPF, título de eleitor. Na segunda-feira, ele vai no Exército fazer o certificado de reservista — disse Bismarck, que tem como representante junto a Baiano o agente Dudu, irmão de Luisinho, ex-volante do Vasco.

Na semana passada, Bismarck foi a São Januário e tratou do assunto com o presidente Roberto Dinamite e o diretor das categorias de base, Humberto Rocha. O clube decidiu que não vai dispensar Baiano. Com 20 anos, ele vai treinar na categoria de juniores.

— Desconfiávamos há muito tempo e, recentemente, ele confessou para a gente. Mas vamos proteger o garoto, ele ainda tem oito meses de juniores — disse Humberto Rocha.

Suspensão deve ser de 180 dias

A situação de Baiano se encaixa diretamente em pelo menos dois artigos do Código de Justiça Desportiva — no 234 e no 236 do capítulo sobre Infrações contra a ética desportiva. Ele pode ficar fora dos campos por 180 dias, isso porque não era atleta profissional na data das infrações — a certidão de nascimento apresentada ao Vasco era de 28 de março de 2007, quando Baiano (então Heitor) tinha 16 anos.

— Tem que ver quem participou da fraude. É preciso investigar, porque volta e meia acontece isso e quem paga o pato é o garoto — afirma o advogado desportivo Luciano Hostins.

O Vasco e o empresário dizem que Baiano vai à delegacia na segunda-feira para se autodenunciar. Na área criminal, por ser menor de 18 anos na época das fraudes, Baiano vai responder por atos infracionais de falsificação de documento público e de falsidade ideológica.

— Ele se denunciar pode reduzir a pena, mas o crime é igual. Deve ter medidas sócio-educativas. Se fosse maior, na soma das penas daria de dois a oito anos de prisão — explica Florindo Testoni, advogado criminalista.

No caso se ser comprovado que o mandante da fraude é outra pessoa, o criminoso responderia também por corrupção de menores.

CBF: título não está ameaçado. Punição se restringe ao atleta

Primeiro homem de contenção do time do técnico Marquinho Santos no Sul-Americano sub-15, no Uruguai, Baiano impressionava pelo porte físico em meio aos outros garotos da categoria. Na competição, foi titular em todas as partidas, menos na final. Ele foi expulso na goleada de 4 a 2 do Brasil sobre a Colômbia.

Pelo Vasco, do lado de Mosquito — artilheiro da seleção brasileira com 12 gols em sete jogos no Sul-Americano e que está longe de São Januário há quatro meses —, Índio, Danilo e Foguete, o garoto do interior da Bahia foi campeão infantil. A decisão foi nas Laranjeiras, com vitória dos cruzmaltinos por 2 a 1.

O diretor de comunicação da CBF, Rodrigo Paiva, foi categórico ao comentar o título da seleção com um jogador com documentos falsificados.

— Se o jogador tiver a idade adulterada, quem é punido é o atleta. Em nada interfere no título Sul-Americano conquistado pela seleção brasileira sub-15. O jogador é quem pode sofrer a sanção. Oficialmente ainda não recebemos qualquer comunicado — disse Paiva.

O ex-jogador do Vasco Bismarck acredita no sucesso de Baiano, que mora na concentração do time ao lado da piscina de São Januário, mesmo subindo de categoria — do juvenil para juniores.

— Ele tem a chance de ser grande profissional. Quando chegou ao clube parece que era muito franzino, ninguém desconfiava de nada. Mas cresceu e agora está “passando” todo mundo — diz o empresário.

Fonte: Jornal Extra